O que não falta no dia a dia das escolas são atitudes dos alunos que os educadores consideram inadequadas e, quase sempre, passíveis de encaminhamentos. Transgressões às regras, agitação, apatia, lentidão para realizar as tarefas e posturas agressivas tornaram-se sintomas frequentemente presentes nos cardápios de especialistas Psi – psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos etc. Mas nos falta muitas vezes uma pequena dose de bom senso aliada à uma dose extra de conhecimento para que nossos encaminhamentos não sejam somente o reflexo de um comportamento contemporâneo.
Diversos estudos apontam que, desde a década de 1980, a sociedade, e mais especificamente a família, passa a adotar o seguinte imperativo: as crianças devem ser objeto de cuidado, proteção e “psicologização”. Dessas relações de contenção e dependência autorizada pela própria Educação familiar, surge o que o professor Julio Groppa Aquino, doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (SP), chama de “encastelamento da experiência da infância”. E esse modelo de Educação começa a dar origem a uma geração entre cujas características predominantes estão: pouca tolerância à frustração, muita exigência de atenção para si e para seus desejos e quase nenhuma habilidade para lidar com expectativas e adiamentos – atitudes e comportamentos deslocados e socialmente indesejáveis! Paradoxalmente, tudo é feito em nome de uma busca desenfreada pela felicidade! Ou seja, quanto menos decepções e enfrentamentos vividos, mais meu filho será feliz!
Acontece que a escola, como instituição social, é lugar de enfrentamento, de superaçãoe, portanto, em muitos momentos, de sofrimento. É onde o sujeito perde sua condição de único para se tornar mais um. É o espaço de grandes possibilidades de fortalecimento pessoal e civil, isso, claro, se a instituição não cair na mercantilização dos serviços educativos, terceirizando situações importantes para o desenvolvimento dos alunos. Isso inclui refletir sobre a própria postura (fortalecimento pessoal) e perceber as consequências negativas que algumas atitudes podem trazer às suas relações (fortalecimento civil).
O que quero pontuar é que nem todos os encaminhamentos para especialistas – psicólogos, psicopedagogos, ludoterapeutas etc. – são, de fato, necessários. O descontrole nas casas e salas de aulas não pode justificar a excessiva terceirização de responsabilidades educativas. Por isso, um bom começo é realizar observações sistemáticas das atitudes dos alunos que consideramos candidatos à ajuda externa. Um diário de bordo pode ter registros detalhados como: Em que momentos aparecem tais comportamentos (no recreio, na sala, quando está sozinho ou em pares?), durante quais atividades e com que frequência? Há pistas de disparadores, ou seja, de situações que desencadeiam os comportamentos inusitados? Como tem sido a intervenção da escola diante dos episódios? O importante é que tenhamos uma lista de indagações que nos possibilite analisar qualitativamente o trabalho realizado e as relações vividas na escola. Muitas vezes, tornamos muito rígido o que consideramospadrão de comportamento para as diferentes idades e engessamos nosso olhar para as diferenças. Isso não significa, no entanto, que não tenhamos casos que demandam o acompanhamento de outros profissionais – às vezes, mais do que gostaríamos.
Em suma, pensemos no filão mercadológico típico da pós-modernidade que é a terceirização da Educação. Pensemos sobre nossas práticas profissionais. Somente com base nisso poderemos considerar quais atitudes dos alunos inspiram uma investigação mais aprofundada. Aí sim, é hora de convocar a família e solicitar avaliações e encaminhamentos.
E você, o que pensa sobre os encaminhamentos a outros profissionais? Compartilhe suas ideias e contribua com nosso espaço de reflexão.
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