Há algum tempo, um grupo de mães pediu para conversar comigo, coordenadora pedagógica, e com a diretora da escola. Elas queriam falar sobre a professora de uma das salas de 5 anos. Naquele momento, o pedido não nos espantou, pois já havíamos recebido algumas reclamações de outras famílias. A questão era que, desde que tal docente assumiu a turma, no início daquele ano, ficou visível para nós que ela ainda tinha muitas dificuldades na prática em sala de aula.
Atendemos ao pedido e agendamos um encontro para dali a dois dias. Estávamos numa situação bem delicada, visto que já havíamos feito várias intervenções para nortear o trabalho da professora e qualificar sua atuação, mas não obtivemos sucesso. Ela continuava não conseguindo estabelecer uma boa dinâmica na sala de aula, despertar o interesse das crianças pelas suas propostas e envolvê-las nas atividades. O resultado era a turma “pegando fogo”: os pequenos corriam para o pátio ou para o parque, entravam em conflito e, a todo o momento, desafiavam a educadora, que sequer conseguia perceber tudo o que estava acontecendo no ambiente. Inclusive, algumas colegas que levavam suas turmas para o parque no mesmo horário que essa professora demonstraram muita preocupação com a segurança das crianças sob responsabilidade dela. Essas profissionais tentaram ajudá-la dando dicas, mas também não viram melhora.
Como eu disse, desde a primeira semana de aula estávamos tentando orientá-la. Conversamos pontualmente com a professora sobre como deveria ser a rotina e sobre quais intervenções eram mais adequadas nos diferentes momentos; assistimos a filmagens de outras salas no momento do diversificado (quando as crianças começam a se dispersar) para que ela tivesse uma boa referência de como montar os diferentes cantos e do papel do educador; conseguimos um horário para que ela observasse uma colega do mesmo nível numa atividade coletiva com as crianças; e eu mesma fui contar história para a turma dela duas vezes para que ela observasse como envolver os pequenos. Nossa última atitude havia sido procurar a gestão da escola em que a professora havia atuado no ano anterior para ter mais dados. Descobrimos, então, que a mesma história havia acontecido na outra instituição e, depois de muitas reclamações das famílias e intervenções da instituição, ela entrou de licença médica por muitos meses.
Na rede pública de ensino, resolver uma situação como essa não é nada fácil. Como concursada ficaria na sala de aula mesmo se as crianças estivessem tendo muitos prejuízos de aprendizagem e até mesmo correndo riscos de se machucar. Procuramos a Secretaria de Educação e a orientação foi que registrássemos todas as vezes que orientamos a professora. Todos deveriam assinar os registros, inclusive ela. Só com tudo documentado seria possível abrir uma sindicância para verificar se a docente realmente não tinha condições de permanecer em sala.
Voltando ao encontro com as mães…
Recebemos o grupo sem a presença da professora e ouvimos as preocupações e as queixas. Relatamos nossas ações e fizemos um relatório para deixar a professora ciente do que aconteceu e também para anexar aos outros que seriam encaminhados para a Secretaria de Educação.
Desde a orientação que recebemos da Secretaria, passamos a tratar a situação mais sistematicamente, fazendo registros e orientações pontuais de duas a três vezes por semana. Diariamente, acontecia algum incidente, como precisarmos retornar com grupinhos que estavam fora da sala, perdas de tênis e blusas e até algumas crianças que não queriam ficar naquela sala e choravam na entrada. Esse processo foi bem difícil, já que a professora ora parecia ter ciência de quanto sua atuação deixava a desejar, ora parecia não estar entendendo o que se passava. Seu comportamento não era dissimulado – ela realmente tinha muitas dificuldades.
Após três meses nessa situação e muita pressão das famílias, a docente tomou algumas providências e procurou ajuda médica. Ela recebeu um parecer que a fez ser readaptada, passando a atuar em função administrativa. Chegamos à conclusão de que essa professora não poderia ter sido aprovada no estágio probatório, que é um instrumento de avaliação do desempenho do funcionário público durante os seus primeiros dois anos de atuação.
Toda essa situação foi bem desgastante para todos, mas nós, como gestoras da escola, não poderíamos ter feito diferente, pois a responsabilidade com as crianças, as aprendizagens e o bem-estar delas estavam comprometidos. É claro que tudo foi feito com muito respeito à professora e, depois de algumas semanas, ela nos procurou para dizer que trabalhava mais feliz porque estava conseguindo fazer o que era esperado dela.
E você, já vivenciou uma situação difícil como essa? Compartilhe aqui e ajude outras pessoas.
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