12 outubro 2014

Refletindo mais sobre o ambiente alfabetizador


Disponibilizar o alfabeto e outras escritas conhecidas pelas crianças para consulta é fundamental nas turmas de alfabetização inicial (Foto: Leninha Ruiz)
Disponibilizar o alfabeto e outras escritas conhecidas pelas crianças para consulta é fundamental nas turmas de alfabetização inicial (Foto: Leninha Ruiz)
Há algumas semanas, escrevi um texto sobre a necessidade de retomar a questão da organização da sala de aula (leia aqui) com um professor muito comprometido, mas que havia feito uma assimilação deformante em relação ao alfabeto na sua sala. Foram muitos os comentários e sugestões bem bacanas, com todos os leitores se mostrando preocupados em sempre respeitar o profissional. Na ocasião, eu ainda estava preparando uma formação para trabalhar essa questão, então, hoje, quero compartilhar com vocês qual foi a estratégia que adotei.
Tenho como pressuposto que a formação do professor deve ser feita com base na reflexão sobre a prática e na dialética embasada em teorias e pesquisas didáticas. Portanto, planejei um encontro para tematizar a organização da sala e o ambiente alfabetizador em uso pelas crianças.
Criança consulta alfabeto localizado abaixo do quadro (Foto: Leninha Ruiz)
Criança consulta alfabeto localizado abaixo do quadro (Foto: Leninha Ruiz)
Selecionei uma filmagem de uma situação didática de escrita de listas (leia aqui o relato da atividade) que também mostrava uma parte considerável da sala de aula, que era bem organizada e tinha materiais que indicavam claramente quais projetos estavam acontecendo. Abaixo do quadro, havia um alfabeto com letras bastão e uma lista de números de 1 a 50 com 4 centímetros de altura. Ao lado, havia algumas parlendas e duas listas com os nomes das crianças das turmas da manhã e da tarde. Em um mural, existia uma listagem dos animais do fundo mar e algumas imagens de peixes, corais, tubarões e baleia (tais imagens não estavam ilustrando a lista). Em cada mesa, havia uma cartela pequena com o alfabeto para que os pequenos pudessem consultar.
Depois de assistir ao vídeo com o grupo de sete professores, propus a discussão em duplas e a posterior socialização das seguintes questões:
  1. Em que situação as crianças se reportam aos materiais escritos?
  2. Como elas utilizam esses materiais?
  3. Podemos afirmar que essa sala favorece a alfabetização? Por quê?
  4. Analise a organização e a disposição dos diferentes materiais escritos, apontando os pontos fortes e o que pode ser melhorado tendo em vista a estética, o sentido dos textos, o acesso e a visualização pelas crianças.
As respostas das duplas possibilitaram uma boa discussão sobre a disposição e altura dos textos, do alfabeto e até da reta numérica. Para vocês terem uma ideia do que os professores falaram, transcrevo aqui uma das respostas de uma dupla: “Muito interessante as parlendas estarem colocadas como se fossem cartazes, uma ao lado da outra. Assim, ficou mais fácil para os garotos procurarem uma palavra que pudesse ajudar na escrita e também deu para ver que eles sabiam o que estava escrito em cada cartaz. Aqui na escola, só escrevemos as poesias no quadro no dia que as apresentamos e deixamos escrito até precisarmos daquele espaço”.
Criança consulta lista de nomes afixada em uma das paredes da sala (Foto: Eick Mem)
Criança consulta lista de nomes afixada em uma das paredes da sala (Foto: Eick Mem)
Na filmagem, ficou visível que os pequenos precisam colocar a mão e apontar cada letra ou palavra – se os textos ou alfabeto ficam no alto, isso não é possível. Nessa hora, é claro que eu puxei o assunto sobre não ter ilustrações no alfabeto, porque se na letra C tem um desenho de cavalo, por exemplo, eu estou informando apenas uma das possibilidades de uso do C, o que pode levar a turma a associar o C sempre à sílaba CA. Além disso, queremos que as crianças utilizem um repertório amplo de escritas que são de uso real, como a listagem de títulos de histórias lidas. A criança sabe o que está escrito porque as histórias foram lidas para ela várias vezes. Pelo ajuste do falado ao escrito, ela, então, localiza onde está determinada palavra.
Após a socialização das respostas, coloquei o vídeo novamente e pedi que focassem na análise da organização e na estética da sala. A discussão foi bem produtiva e houve professor que disse fazer algumas “decorações” por achar que era seu dever enfeitar o ambiente, mas que, de fato, uma sala menos poluída visualmente lhe parecia mais agradável.
E o docente que inspirou essa formação? Ele participou da reflexão e fez uma análise comparativa da sala dele com a do vídeo, elencando algumas alterações que pretende fazer. Uma delas é a de disponibilizar pequenos alfabetos em cartelas para que as crianças possam manusear. Ele percebeu que esse material ajuda bastante as crianças na localização de determinada letra, por exemplo, algo que alfabeto no alto, com desenhos e muitos tipos de letra pode dificultar.
http://gestaoescolar.abril.com.br/

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