31 janeiro 2015

As situações didáticas de Língua Portuguesa


Até dominar a leitura e a escrita, a garotada passa por experiências enriquecedoras, como ler sem saber ler e escrever sem saber escrever 

Cada criança chega à escola em uma fase da alfabetização - o nível de compreensão depende das possibilidades prévias de contato com o mundo da escrita. Apesar de uma classe ter alunos em estágios diferentes de conhecimento, todos podem aprender. "O ambiente escolar deve ser pensado para propiciar inúmeras interações com a língua escrita", afirma Telma Weisz, especialista em Psicologia Escolar e uma das maiores autoridades em alfabetização no Brasil. O papel do professor é mediar interações.
Para auxiliá-lo na tarefa de facilitar o ingresso da meninada no universo da linguagem escrita, o docente tem à disposição algumas atividades consagradas. "Aprendi que a leitura para a classe é uma delas e faço isso diariamente. Sento-me em roda com a turma, mostro um livro, falo sobre o autor e leio por cerca de 15 minutos", afirma Cintia Dante de Queiroz Minelli, da EMEB Professor Bráulio José Valentim, na zona rural de Mogi Mirim, a 160 quilômetros de 
São Paulo. A educadora incentiva a escrita utilizando letras móveis ou lápis: "É para que as 
crianças descubram que tudo o que falam pode ser escrito".




A conclusão da alfabetização inicial ocorre após os dois primeiros anos de escolaridade. Nas séries seguintes, a garotada aprofunda conhecimentos sobre diferentes gêneros de texto e ganha maior autonomia na produção e na leitura. Maria Ussifati, da EM Tempo Integral, de Umuarama, a 600 quilômetros de Curitiba, vê o progresso de seus alunos da 4ª série. Eles lêem uns para os outros e indicam títulos a amigos. "Percebo que mesmo os que não têm o hábito de ler ficam interessados quando vêem o colega com um livro ou contando uma história curiosa", ela explica. As cinco situações didáticas de Língua Portuguesa estão descritas em duas fases, alfabetização inicial e continuidade (veja a seguir). Como o nível de leitura e escrita varia dentro de uma classe, é importante identificar em que fase cada aluno está e escolher atividades adequadas para a turma.

1. Leitura para a classe feita pelo professor
Na alfabetização inicial


O que é: A turma forma uma roda, e o professor lê em voz alta textos literários, jornalísticos, regras de jogos etc. Os gêneros devem variar para que o repertório se amplie. Além de contos de fadas, valem notícias que tratem de algum assunto de interesse de crianças. Também é imprescindível garantir a qualidade do material à disposição da meninada. 


Quando propor: Diariamente. 

O que a criança aprende: Os usos e as funções da escrita, as características que distinguem os gêneros e as diferenças entre o oral e o escrito. Ela se familiariza com a linguagem e os elementos dos livros (que contam histórias), dos jornais (que trazem notícias) e dos textos instrucionais (que incluem regras de jogos ou receitas culinárias). 

Na continuidade



O que é: Leitura de livros literários mais longos (podem ser selecionados capítulos inteiros, por exemplo) e textos informativos mais complexos. O objetivo é que a turma construa uma compreensão coletiva de cada obra. 





Quando propor: Diariamente. http://revistaescola.abril.com.br/

O que a criança aprende: Características de textos mais difíceis e de diferentes gêneros.
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30 janeiro 2015

Volta às aulas



O retorno à rotina escolar merece atenção tanto no planejamento e organização das diretrizes quanto na produção das atividades para os alunos. Propicie um retorno agradável aos que voltam das férias e uma boa recepção aos que iniciam a vida escolar




Por Sâmia Gabriela Teixeira

Objetivos:
★Desenvolver a interação entre os alunos
★ Valorizar a amizade
★ Desenvolver o ser participativo e atuante
★ Elevar a autoestima e o respeito pelo ambiente escolar

A volta às aulas transforma a vida não só de alunos e professores, como também dos pais. Alguém duvida? Os pais normalmente sentem dificuldade ao lidar com o afastamento do filho que inicia sua vivência escolar, os professores se preocupam com o planejamento e sucesso desse momento, e as crianças sentem a ansiedade do primeiro dia ou do retorno à escola. A inquietação que move a volta às aulas deve ser, na verdade, uma fase feliz para que os envolvidos sintam-se bem e aproveitem o início de mais um ano letivo. Para isso, o preparo de um retorno agradável começa muito antes, a partir de procedimentos internos e metodologias pedagógicas específicas de casa escola. A pedagoga Gisele Lemos, da Escola Bloom de Educação Infantil, do Rio de Janeiro (RJ), explica como planeja o acolhimento dos alunos que retornam das férias ou ainda dos que iniciam os estudos: “Os professores participam de dinâmicas de grupo assim como da realização de um brainstorming, conhecido como ‘tempestade de ideias’. Essa interação, que deve ser realizada com a equipe da escola, é importante para compartilhar a criatividade entre todos os funcionários”.
De acordo com Gisele, o professor que participa dessas reuniões “estabelece os conteúdos e regras, troca experiências profissionais, interage com outros docentes e, principalmente, cria melhores projetos e atividades para o mês de trabalho ou planejamento anual de atividades”.
Dica de leitura!
Camila e a Volta às Aulas
Camila está ansiosa para voltar às aulas e rever seus amiguinhos, mas seu primo Miguel está um pouco assustado em seu primeiro dia na escolinha. Como será que Camila vai ajudar o menino a superar seu medo?
Autora: Aline de Pétigny
Ilustrações: Nancy Delvaux
Assuntos: educação e vida em sociedade
Preço: R$ 17,50
Onde encontrar: www.larousse.com.br


Prepare um bom acervo de brincadeiras, cantigas de roda e histórias, de acordo com a faixa etária dos alunos 
Por Marcella Naressi, escola Espaço Aberto

Procedimentos práticos 

Além das dinâmicas em grupo com a equipe da escola, organizar materiais e conteúdo educacional previamente garante mais eficiência no momento de receber os alunos. Marcella Naressi, coordenadora pedagógica da Escola Espaço Aberto, de São Paulo (SP), sugere que algumas tarefas sejam cumpridas antes mesmo das aulas iniciarem, para que os professores sintam-se seguros e possam passar a mesma sensação às crianças. “Separe materiais como massinha, palito, papeis variados, argila, pedaços de tecido e brinquedos. É importante também preparar um bom acervo de brincadeiras, cantigas de roda e histórias, de acordo com a faixa etária dos alunos, e estudar o perfil das crianças que já estudam na escola, tendo como base informações da família ou a partir de registros dos anos anteriores feitos pela escola ou anotados em reuniões de pais”, explica Marcella.



Dias de adaptação
A primeira semana de aula deve proporcionar aos alunos o acolhimento necessário para que se sintam à vontade no decorrer do período letivo. Patrícia Marques, coordenadora pedagógica do CEI Vila Nova Curuçá, de São Paulo (SP), afirma que a elaboração cuidadosa dos primeiros contatos com os alunos oferece cooperação e autoconhecimento da turma e dos professores. “Geralmente os alunos menores sentem-se muito inseguros com a troca de sala e de professor, por isso é importante que haja paciência, carisma e estabelecimento de regras e limites. Essa não é uma atitude negativa, pois faz com que os alunos respeitem o ambiente, o professor e seus amigos”, diz Patrícia.


 http://revistaguiainfantil.uol.com.br/

Como elaborar atividades de escrita pelo aluno na alfabetização


Desde as primeiras aulas, escrever leva a turma a refletir a respeito do sistema alfabético, além de formular, testar e avançar nas próprias hipóteses



alfabeitzação

No dia a dia da sala de aula, a escrita aparece em listas de presença, calendários, livros, revistas, cartazes... Fora da escola, não é diferente: está em cada carta, e-mail, placa, receita e bilhete. Nessas entrelinhas, o alfabetizador tem um aliado: a escrita pelo aluno - uma das quatro situações didáticas básicas da alfabetização, segundo pesquisas na área - como um instrumento com razão de existir, e não apenas como sílabas, palavras e frases soltas, que não fazem sentido para as crianças.
No livro Aprender a Ler e a Escrever, Ana Teberosky e Teresa Colomer falam sobre a importância com esse cuidado: "Apesar de a criança aprender graças à interação com diferentes materiais gráficos, para apropriar-se da linguagem escrita" é necessário que ela participe de situações em que a escrita adquira significação."
Assim, contempla-se o preceito colocado pela psicolinguista argentina Emilia Ferreiro de que
 qualquer escrita é um conjunto de marcas gráficas intencionais, mas são as práticas culturais de interpretação que as transformam em objetos simbólicos e linguísticos.

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29 janeiro 2015

Painel Aniversariantes







O que a creche pode ensinar?


Entenda quais são as experiências de aprendizagem para crianças até 3 anos e saiba como cada uma delas influencia no desenvolvimento infantil



No Brasil, a ideia de um currículo para a Educação Infantil nem sempre foi aceita. O termo, porém, ganhou força na última década, quando passou a ser de fato compreendido como um conjunto de práticas intencionalmente planejadas e avaliadas - um projeto pedagógico que busca articular experiências e saberes da criança para inseri-la na cultura, capaz de prepará-la para encarar o Ensino Fundamental da melhor maneira possível.

Para Jean Piaget, o sujeito constroi seu próprio conhecimento, processo que se dá a partir da interação com os outros e com o mundo dos objetos e das ideias. Por isso, o currículo da creche deve apontar quais experiências de aprendizagem são fundamentais para o desenvolvimento da criança, levando-se em conta as principais conquistas deste período, como a marcha, a linguagem, a formação do pensamento simbólico e a sociabilidade. É este projeto pedagógico que vai orientar as ações e definir os parâmetros de desenvolvimento dos meninos e meninas.






Em 1998, o Ministério da Educação (MEC) publicou o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, documento que aponta metas de qualidade para garantir o desenvolvimento das crianças na creche e na pré-escola. Mas a elaboração de propostas curriculares municipais é bem mais recente.

Conheça, abaixo, os sete eixos de aprendizagem da creche organizados por NOVA ESCOLA para oferecer cuidado, segurança, acolhimento e condições para o desenvolvimento subjetivo e intelectual das crianças entre 0 e 3 anos.
Quer saber mais?
Proposta Curricular para Berçários - Educação Infantil. Prefeitura Municipal de São José dos Campos, 2009.
Orientações Curriculares e Expectativas de Aprendizagens para a Educação Infantil Paulistana.Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, 2007.
Metas de aprendizagem - Educação Básica. Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes da Prefeitura Municipal de Junidaí, 2003

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28 janeiro 2015

Acervo de livros da escola: um tesouro a explorar


As avaliações mostram que os alunos aprendem mais quando têm a oportunidade de conviver com os livros na escola. Ajudá-los a descobrir esse mundo é muito divertido e enriquecedor.

foto: Gustavo Lourenção

Há um tesouro na escola. Ao alcance de todos, é capaz de operar pequenos milagres em quem se apossa dele. Ele aumenta à medida que transfere sua riqueza (o conhecimento) para um número cada vez maior de professores e alunos. Por isso é preciso descobri-lo, torná-lo parte da vida de todos, melhorá-lo constantemente. Os ganhos são visíveis. Um cruzamento de dados realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais com base nos resultados de 300 mil estudantes no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) revela um desempenho quase 20% superior nos colégios em que mais de 75% dos alunos manipulam e lêem regularmente as obras das estantes. "Existe uma clara correlação entre a existência e o uso da biblioteca e notas melhores, principalmente em Língua Portuguesa", afirma Carlos Henrique Araújo, diretor de Avaliação do Ministério da Educação.

Infelizmente ainda se contam aos milhares as "ilhas sem tesouro" em nosso país. Das mais de 172 mil escolas de Ensino Fundamental, apenas 46 mil contam com biblioteca ou sala de leitura. O quadro melhora no Ensino Médio, com 81% das unidades aparelhadas. Além disso, muitas crianças brasileiras nascem em lares com pouco material escrito. Um em cada quatro alunos de 4ª série, segundo o Saeb de 2001, não tem nenhum livro em casa. Daí a importância da biblioteca - e do professor, que é o primeiro "leitor" da vida desses meninos e meninas. Ao ler em voz alta, você estará ajudando a construir o mundo na cabeça dos estudantes. "Por isso", destaca Marisa Lajolo, do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, "é importante aprender a ler com ritmo e entonação adequados. Hoje são raras as pessoas que conseguem fluência e vivacidade numa primeira leitura e o melhor é ensaiar previamente." 

Nas próximas páginas você vai ver que algumas escolas públicas e particulares vêm mostrando aos alunos como ficar ricos acessando essa caixa que é um verdadeiro tesouro. Aliás, também no sentido literal. Em grego, bibliontekhé quer dizer caixa de livros. Que tal abri-la juntos?



Livro para o aluno 

A exemplo do que ocorreu no ano passado, o Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE) vai entregar em 2003 livros diretamente aos alunos. O MEC pretende ampliar o programa, atendendo cerca de 7 milhões de estudantes de 4ª e 8ª séries e do 2º segmento das classes presenciais de Educação de Jovens e Adultos. Outra novidade prometida por Lucia Lodi, diretora do Departamento de Política para o Ensino Fundamental do MEC, é a criação de um instrumento de apoio para o professor trabalhar os livros em aula, além de dicas sobre organização de um espaço de leitura e relato de experiências.

O aluno na biblioteca da escola 

Com cada faixa etária é possível um tipo de trabalho diferenciado na biblioteca. As sugestões a seguir foram criadas por Carol Kuhlthau, da Rutgers University, nos Estados Unidos, em seu livro Como Usar a Biblioteca na Escola. "A tradução brasileira, feita por um grupo de professores da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais, adaptou a obra com sugestões de bibliografia e atividades voltadas para a realidade brasileira, deixando-a ainda mais interessante", destaca a consultora pedagógica Maria José Nóbrega. 

• 4 a 6 anos - Conhecendo a biblioteca: a principal atividade é ler muitas histórias, sempre curtas e simples, pois prender a atenção de uma classe inteira de crianças pequenas é difícil. Atividades lúdicas, como descobrir "onde o livro mora", introduzem os pequenos na organização do espaço. 

• 6 e 7 anos - Envolvendo as crianças com livros e narração de histórias: nessa fase, que coincide com o processo de alfabetização, a prioridade se mantém na leitura em voz alta pelo professor, complementada por atividades de compreensão, como desenhar ou dramatizar a narrativa. As crianças devem escolher e manusear os livros da biblioteca ou sala de leitura. 

• 7 e 8 anos - Prática de leitura: escutar uma história e, em seguida, mergulhar numa atividade, de preferência em grupo. Eles já podem entrar em contato com obras de referência, como enciclopédias e dicionários. Hora de começar a ler jornais e revistas. 

• 9 e 10 anos - Começando a usar recursos informacionais: aos 9 anos, a criança consegue entender os mecanismos de procura por autor, título e assunto e pode produzir um texto usando duas fontes diferentes. O trabalho em grupo continua eficiente, mas é recomendável estabelecer uma agenda de leitura individual. Obras de suspense costumam ter boa aceitação. 

• 11 e 12 anos - Usando a biblioteca de maneira independente: nessa fase de pré-adolescência ocorre notável diferenciação na classe, pois as meninas estão mais amadurecidas. Capazes de pesquisar em várias fontes (inclusive na internet) e produzir texto, todos são bem receptivos a jogos e gincanas. Textos de terror, aventura e romance são bem lidos nessa fase de transição. 

• 13 e 14 anos - Mergulhando no ambiente informacional: na adolescência nem sempre as atividades em grupo na biblioteca se mostram produtivas, por causa da dispersão natural da idade. Nesse período de muitas escolhas, de busca de independência e de identidade com o grupo, os alunos tornam-se conscientes do ambiente da informação e já estão totalmente familiarizados com a pesquisa em várias fontes, com o uso da internet e de recursos audiovisuais, muitas vezes para buscar assuntos de interesse pessoal. É a última etapa antes da autonomia no uso da biblioteca, que se concretiza durante o Ensino Médio. 

O objetivo central, em qualquer trabalho envolvendo biblioteca escolar, é criar autonomia nos alunos. "Tão importante quanto garantir o acesso à informação é ensinar o aluno a buscar, localizar, selecionar, confrontar, estabelecer nexos e, com base em tudo isso, produzir o próprio discurso e criar textos", ensina Edmir Perrotti, chefe do departamento de Biblioteconomia da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e um dos autores do projeto Biblioteca Interativa, implantado em São Bernardo do Campo (veja abaixo). "A biblioteca escolar deve ser um espaço de formação e de educação para a informação." 

Para criar uma sala de leitura dinâmica 

Existem várias sugestões simples que ajudam a construir o hábito de leitura e reforçam o papel da biblioteca escolar entre os estudantes. Confira a seguir algumas delas, fotografadas em bibliotecas de verdade, nas Escolas Municipais de Educação Básica Marcos Rogério da Rosa e Padre Manoel da Nóbrega, ambas da rede pública de São Bernardo do Campo (SP), que mantém o projeto Biblioteca Interativa, criado por professores de Biblioteconomia e Arquitetura da Universidade de São Paulo, e na Escola Projeto, de Porto Alegre.


Ao alcance da mão 
Na Educação Infantil e nas primeiras séries do Ensino Fundamental, o ideal é deixar os livros em estantes-caixotes. Mais baixas, elas facilitam a visualização da capa, fator de escolha para quem não lê bem. Se tiverem rodinhas, elas podem ser levadas ao pátio 

Acervo atualizado 
É essencial fazer novas aquisições, repor e recuperar volumes danificados. A direção da escola, em parceria com a Associação de Pais e Mestres, deve escolher o que comprar. Boa dica é fazer assinaturas de revistas (pedagógicas e de interesse geral) e jornais


Deixe ler em casa 
Em São Bernardo do Campo, Márcia Ploretti fez um curso de capacitação para ser contadora de histórias e incentiva a garotada a levar os livros para ler em casa. Além de administrar a entrada e saída dos volumes, ela ajuda os colegas a escolher material 

O aluno é autor 
O astral da biblioteca fica mais rico quando o aluno se sente parte dele. Ponha na estante livros produzidos em classe. E monte um painel como o da foto, que tem várias resenhas produzidas pelas próprias crianças. Entrevistas gravadas também devem ser arquivadas


Ambiente agradável 
Boa infra-estrutura é essencial. Bancos acolchoados e pufes espalhados pelo espaço criam um ambiente acolhedor. Dedique atenção especial à iluminação da sala. O piso emborrachado permite que a criança leia sentada no chão e fantasias atiçam a criatividade

Mais autonomia 
Segundo os especialistas, toda classe deve ir ao menos um dia por semana à biblioteca. Tanto faz se o horário é para pesquisa ou leitura livre. O que importa é dar autonomia às crianças, ensinando-as a localizar o que procuram e mostrando que a biblioteca é parte do dia-a-dia


A biblioteca do professor 

No município de Marabá, às margens do rio Tocantins, no sul do Pará, não existe cinema nem biblioteca pública, mas diversas escolas têm comunidades de leitores e a hora da leitura está incorporada ao cotidiano. Graças, em grande parte, à criação da Biblioteca do Professor. Dos 1,6 mil docentes da rede pública, mais da metade já retirou ao menos um livro. Além de títulos de formação e clássicos da literatura, a biblioteca oferece a possibilidade de criar um "kit literário" com até 30 livros para ser trabalhados durante uma semana em sala de aula. Além do acervo, a biblioteca repassa estratégias de trabalho e dinamização das salas de leitura espalhadas pelas escolas da rede (embora nem todas possuam, principalmente as da zona rural). Para incrementar o acervo, a coordenadora Francisca Oliveira Lopes teve uma idéia bem diferente: aproveitar o auditório da Secretaria de Educação para projetar vídeos no telão. A sessão é aberta a todos os moradores e os espectadores precisam dar um livro em troca do ingresso. 

Uma das conclusões a que se chega vendo a experiência em Marabá é que não importa se o acervo de livros de uma escola é grande ou pequeno, pobre ou rico. Qualquer estante de livros, somada a uma boa estratégia de leitura, é capaz de se transformar em uma biblioteca escolar — e das mais dinâmicas. 

Na Escola Municipal Jonatas Pontes Athias é fácil perceber as vantagens de priorizar os projetos de leitura. A gincana cultural é bom exemplo. Tarefas como dramatizar uma entrevista com um autor ou personagem, parodiar uma música conhecida com o enredo de um livro ou recontar a história por meio de coreografia mobilizam professores, pais e alunos em torno de um objeto cada vez mais comum por lá, o livro. 

Na biblioteca da Jonatas Athias não faltam produções dos próprios alunos. Edmir Perrotti, da Universidade de São Paulo, elogia a iniciativa. "Acervo não é um conjunto de documentos, mas de significados. Quando um estudante tem sua criação incorporada ao acervo, ele se vê como produtor de cultura." Outra estratégia adotada é o "leitor do dia", que deve estudar em casa o texto para ler aos colegas. Aos sábados, as aulas são dedicadas à leitura. 

O trabalho de sensibilização dos professores de Marabá para a importância do ato de ler começou em 2001 e transformou a própria forma de trabalho, como destaca a capacitadora Eliane Mingues, do Centro de Estudos e Documentação para a Ação Comunitária (Cedac). "No começo muitos acham que as crianças não vão gostar. Quando participam das oficinas, já começam a gostar. E em sala de aula o trabalho cresce muito." Segundo ela, é comum os alunos passarem a cobrar a leitura diária. Estratégia, aliás, defendida por Marisa Lajolo, do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp: "Quando prevista na grade curricular, a leitura ganha visibilidade no dia-a-dia da escola". E, poderíamos acrescentar, a biblioteca também. 

Ao cobrar de seus professores que leiam todo santo dia, a turma de Marabá parece ter escutado o conselho do escritor francês Daniel Pennac: "Excelentíssimas crianças, se eu fosse vocês, a primeira coisa que pediria à professora ao entrar na sala de aula, pela manhã, seria: ‘Leia uma história para nós’. Não existe melhor maneira de começar um dia de trabalho!" Quer apostar? 

Missão: formar os leitores do futuro 

Quando se fala em biblioteca escolar, é inevitável pensar nos hábitos de leitura dos alunos. Formar bons leitores significa encantar as crianças, enfeitiçá-las com o poder que vem dos livros. Mas isso não se forja com obrigações, muito menos com trabalhos sistemáticos de compreensão de texto. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a leitura é sempre um meio, nunca um fim. Por isso, na escola ela deve ter várias funções, pois é diferente ler para se divertir, ler para escrever, ler para estudar, ler para descobrir algo que deve ser feito etc. Os PCN recomendam que o acervo da biblioteca seja variado, que nos momentos de leitura livre o professor leia junto com a turma e que os alunos também possam, em alguns momentos, escolher as próprias leituras e levar os títulos para casa. 

A pedagoga Eliane Mingues, do Cedac, trabalha há vários anos com comunidades de leitores formadas por docentes. Ela costuma enfrentar o "vício da interpretação", que pode inibir o gosto pela leitura, com uma pergunta curiosa aos professores: "Quando vocês terminam de ver uma fita de vídeo em casa com a família ou os amigos, alguém fica perguntando ‘Qual foi a parte mais importante?’ ou ‘Quem são os personagens principais?’ Por que, então, fazer perguntas desse tipo ao aluno sobre os livros?" As crianças, ensina ela, têm direito a ler livres de interpretações e lições. Só dessa forma conseguirão mergulhar num livro com o mesmo prazer com que vêem um bom filme. E o prazer traz mais prazer. Ou seja, um bom livro lido é o melhor adubo para formar futuros leitores. 

Quando ler era tortura 

Já imaginou dar uma aula tendo como livro de leitura a Constituição ou o Código Penal? Pois até meados do século 19 eram esses os materiais disponíveis. No início do século 20, só os célebres manuais de Abílio César Borges, um avançado educador que suprimiu os castigos físicos em sua escola, representavam alguma melhora. Através do Brasil, uma viagem de três garotos impregnada de ufanismo e escrita por Olavo Bilac e Manuel Bonfim, pecava pela excessiva preocupação moral, embora fosse uma boa novidade. 

Só em 1921, com A Menina do Narizinho Arrebitado (ao lado), de Monteiro Lobato, editado pelo próprio autor como "segundo livro de escola", surgiria o ingrediente do prazer, vital segundo todos os estudiosos da questão da leitura. Desde então, os textos ficaram cada vez mais atraentes e nossos autores são reconhecidos em todo o mundo. É o caso de Ana Maria Machado e Lygia Bojunga, vencedoras do Prêmio Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil.

CONTE SUA EXPERIÊNCIA

Sua escola inventou um jeito para montar uma biblioteca ou melhorar seu acervo? Mande para nós o relato da experiência, pelo correio ou por e-mail. A história pode ser útil para muitos colegas e, no futuro, até virar reportagem na Revista do Professor. Não perca tempo! Mande já seu relato. 
Por carta: Av. das Nações Unidas, 7221, 6º andar, CEP 05425-902, São Paulo, SP
Quer saber mais?
Como Usar a Biblioteca na Escola — Um Programa de Atividades para o Ensino Fundamental, Carol Kuhlthau, 303 págs., Ed. Autêntica, tel. 0800-283-1322, 32 reais 

Ler e Escrever na Escola — O Real, o Possível e o Necessário, Delia Lerner, 120 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 26 reais 

Biblioteca e Formação Docente: Percursos de Leitura, Marta Maria Chagas de Carvalho e Diana Gonçalves Vidal (orgs.), 96 págs., Ed. Autêntica, 22 reais 

Caminhos da Escrita — Espaços de Aprendizagem, Élie Bajard, 319 págs., Ed. Cortez, tel. (0_ _11) 3864-0111, 34 reais 

Histórias e Histórias: Guia do Usuário do Programa Nacional Biblioteca da Escola — PNBE 99, vários autores, 268 págs., MEC/SEF, 2001 

Guia do Livronauta — Sobrevoando o Tesouro da Biblioteca e Aterrissando na Prática, Madza Ednir (coord.), 161 págs., MEC/SEF, 2001 

Biblioteca da Escola — Direito de Ler, Elizabeth D’Angelo Serra (coord.), Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, PROLER 2002, 70 págs. 

Fundação Biblioteca Nacional, tel. (21) 2556-5878, pedidos pelo e-mail: proler@bn.br br), no ícone PNBE, é possível ler os pareceres dos especialistas sobre todos os livros do programa

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27 janeiro 2015

Fraldas e livros: a importância da leitura para a primeira infância

Acredite: não é perda de tempo ler para quem ainda nem aprendeu a falar. Conheça seis projetos de estímulo à leitura voltados para crianças de até 3 anos


Pequenos se divertem com livros-brinquedos na UME Doutor Luiz Lopes, em Santos, SP: projeto de leitura no berçário causou espanto no início, mas acabou sendo premiado. Foto: Kriz Knack
Pequenos se divertem com livros-brinquedos na UME Doutor Luiz Lopes, em Santos, SP: projeto de leitura no berçário causou espanto no início, mas acabou sendo premiado. Foto: Kriz Knack
Quando a escritora de livros infantis Tatiana Belinky perguntou ao pediatra, nos idos de 1940, em que momento deveria começar a educar seu filho, então com 3 meses de vida, ouviu como resposta: "Você já está atrasada". Parece mera frase de efeito. O fato, porém, é que o doutor estava coberto de razão. Não há idade para dar início à educação de uma criança - e isso vale também para o incentivo à leitura.
Bebês podem até não entender todo o enredo de uma história, mas a leitura em voz alta os coloca em contato com outras dimensões das linguagens oral e escrita, que serão importantes em seu desenvolvimento. "Eles percebem que a fala do dia a dia é diferente daquela usada numa leitura, que tem cadência, ritmo e emoção. Entendem, por exemplo, que há um começo, um clímax e um desfecho", explica Fraulein Vidigal de Paula, doutora em Psicologia Escolar.
Especialistas acreditam que, para alguém se interessar por livros na vida adulta, é fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo. Ou seja: estimular a leitura dentro do berçário, com bebês que ainda nem aprenderam a falar, pode ser o caminho mais curto para a formação de um futuro leitor. "Manuseando um livro, eles são capazes de identificar a existência da grafia e passam a estabelecer uma relação direta com a linguagem escrita", afirma Fraulein. Pouco importa se a criança ainda não aprendeu a ler ou se o exemplar em questão é feito de papel, plástico ou tecido.

É verdade que leitura para bebês pode assustar até professores. Foi o que descobriu a pedagoga Cláudia Leão, de Santos, no litoral de São Paulo. Em 2002, durante uma reunião com educadoras do berçário onde trabalhava, Cláudia propôs uma atividade de leitura. A ideia foi recebida com espanto e até um pouco de desdém. Mas Cláudia bateu o pé e, da sua teimosia, nasceu o projeto Leitura no Berçário! Por Que Não?. Àquela altura, a pedagoga não fazia ideia do que ainda estava por vir. Cinco anos mais tarde, em 2007, seu trabalho seria amplamente reconhecido e ela receberia um prêmio do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler).

Para despertar a paixão pelos livros nos pequenos da UME Doutor Luiz Lopes, Cláudia usou uma estratégia muito simples: ela criou livros feitos de pano e feltro que têm, em todas as páginas, desenhos de bichos e fotos de cada um dos bebês, lado a lado, como se fossem personagens de uma história. Quando a criança se reconhece, ao virar uma página e encontrar a própria foto, ela se levanta e escolhe outro livro, trazendo-o de volta à roda de leitura para dar continuidade à brincadeira. "Mecanismos desse tipo levam-na a perceber que entre ela e o livro há uma distância mínima", diz Cláudia. Conforme crescem, tornam-se elas mesmas as contadoras de histórias.


Eu recomendo 

CLÁUDIA LEÃO, criadora do projeto Leitura no Berçário! Por Que Não?, de Santos, vencedor do prêmio Proler 

"Para os bebês, a leitura de histórias que assustam é sempre boa sugestão. Os pequenos se entregam ao ritmo, à cadência e à entonação usadas pelo narrador. Melhor ainda se a criança já tiver capacidade de entender o enredo, ou pelo menos parte dele. Aí, ela se empolga de vez. Uma das figuras que mais provocam medo na primeira infância é o Lobo Mau, um clássico dos contos infantis. Por isso, todas as histórias com esse personagem são altamente recomendadas: Chapeuzinho Vermelho, Três Porquinhos, Pedro e o Lobo, entre outras. A Companhia Editora Nacional tem uma compilação belíssima de todos esses contos. E a obra é ilustrada por grandes artistas." 

O GRANDE LIVRO DOS LOBOS, Vários autores, 120 págs., Companhia Editora Nacional, tel. (11) 2799-7799, 45 reais




Eu gostei
DAVID FELIPE GONÇALVES, 2 anos, ouviu muitas histórias no projeto Espaço de Ler, Direito de Todos

David gosta muito do livro Cadê Clarisse?, de Sônia Rosa. O motivo? As ilustrações são grandes e coloridas. "Ele não precisa entender as letras para entender a história", diz a mãe, Solange Cristina Gonçalves.

CADÊ CLARISSE?, Sônia Rosa, 18 págs., Ed. DCL, tel. (11) 3932-5222 , 16 reais
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